quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ansiedade: Marcas da evolução humana

De acordo com a teoria de Charles Darwin, que fala sobre a evolução das espécies, os seres vivos se adaptam ao meio para garantir a sobrevivência dos seus. Com tecnologia, globalização e o estresse de uma grande metrópole, os humanos têm que se adaptar a correria diária. O estilo de vida, que inclui alimentação, lazer e cuidados com a saúde, fica condicionado ao quesito tempo. Nessa luta para se adequar, o organismo dá sinais de alerta para o descanso e o cuidado com o corpo e a mente.

A ansiedade é um destes sinais. Esse sentimento de apreensão, uma sensação de que algo está para acontecer, representa um contínuo estado de alerta e uma constante pressa em terminar as coisas que ainda nem se iniciaram.

Segundo a médica e psicanalista, Soraya Hissa de Carvalho, a ansiedade é uma atitude fisiológica normal responsável pela adaptação do organismo às situações de perigo. “Se não existisse esse mecanismo que nos coloca em posição de alerta, talvez nossa espécie nem tivesse sobrevivido às adversidades encontradas pelos nossos ancestrais”, explica ela.

Até certo ponto, a ansiedade é positiva, mas, em excesso, pode causar danos à saúde. “A ansiedade e o estresse são um esforço da mente e de todo o organismo para lidar com as diversas situações de perigo e angústia. Porém, não havendo período suficiente para a recuperação desse esforço psíquico, no qual a saúde é restabelecida, ou persistindo continuadamente os estímulos de ameaça que desencadeiam a reação de ansiedade e estresse, nossos recursos para a adaptação acabam por esgotar-se”, ressalta a médica.

Circunstâncias do meio: A ansiedade na vida moderna se desencadeia constantemente. Nela, estão incluídas a competitividade social, a insegurança, a competência profissional, a sobrevivência econômica, as perspectivas futuras e mais uma infinidade de ameaças abstratas e reais que aflige o homem de hoje. Muitas dessas situações não temos a opção de reação - de fugir ou atacar. Um exemplo disso é o desemprego. A única coisa a se fazer é preparar com cuidado o currículo e aguardar os contatos para as entrevistas. Esta espera ansiosa pode durar por dias ou, até mesmo, meses.

Os nossos ancestrais, os homens das cavernas, passavam por situações nos quais as ameaças eram animais ferozes prestes a atacá-los e as invasões de tribos inimigas. Circunstâncias estas que após reação do corpo - fugir ou atacar- passam e se estabilizam. Estes são perigos concretos e visíveis, ao contrário da maioria das ameaças de hoje que são abstratas e muitas vezes invisíveis aos olhos apressados.

“Na antiguidade, tais ameaças eram concretas e a pessoa tinha um determinado objeto real a combater, localizável no tempo e no espaço. Hoje em dia, esse objeto de perigo vive dentro de nós. As ameaças vivem, dormem e acordam conosco. Ou seja, vivemos ansiosos.”, afirma Soraya.

Sintomas da ansiedade: A médica aponta alguns sintomas que as pessoas devem ficar atendas, pois estão associados à ansiedade crônica. São eles: tremores ou sensação de fraqueza; tensão ou dor muscular; inquietação; fadiga fácil; falta de ar ou sensação de fôlego curto; palpitações; sudorese, mãos frias e úmidas; boca seca; vertigens e tonturas; náuseas e diarréia; rubor ou calafrios; polaciúria (aumento de número da micção); bolo na garganta; resposta exagerada à surpresa; - impaciência, dificuldade de concentração ou memória prejudicada, irritabilidade; dificuldade em conciliar e manter o sono.

Consequência da ansiedade prolongada: Esse constante estado de ansiedade pode resultar em problemas mais sérios, como a síndrome do pânico e os transtornos obsessivos compulsivos. 

Síndrome do Pânico: este distúrbio é nitidamente diferente de outros tipos de ansiedade, caracterizando-se por crises súbitas, sem fatores desencadeantes aparentes e, frequentemente, incapacitantes é caracterizada pela ocorrência de freqüentes e inesperados ataques de pânico. Os ataques, ou crises, consistem em períodos de intensa ansiedade e são acompanhados de alguns sintomas específicos como taquicardia, perda do foco visual, dificuldade de respirar, sensação de irrealidade, entre outros. A causa mais comum da síndrome é a psicológico. Pode surgir como uma reação a uma situação difícil que pode ser profissional, afetiva, financeira. Mas, alterações no organismo provocadas por medicamentos, doenças físicas, abuso de álcool ou drogas e a predisposição genética podem levar a este transtorno. 

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo: o TOC é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos. Estes pensamentos são idéias persistentes, impulsos ou imagens que ocorrem de forma invasiva na mente da pessoa, gerando muita ansiedade e angústia. As compulsões são atos repetitivos que tem como função tentar aliviar a ansiedade trazida pelas obsessões. Assim, a pessoa pode lavar a mão muitas vezes para tentar aliviar uma idéia recorrente de que está sujo, ou verificar muitas vezes se uma porta está fechada, por exemplo. Essas obsessões acarretam grande estresse, consomem tempo e interferem bastante na rotina da pessoa.

Segundo a médica, o primeiro passo para tratar esses transtornos ansiosos é a informação. “Paciente, familiares e amigos devem estar cientes de que não se trata de frescura. O apoio e carinho são fundamentais, além disso, o acompanhamento de especialista e medicamentos são essenciais para o controle da doença”, orienta Soraya.