terça-feira, 25 de agosto de 2009

Criação de abelhas sem ferrão

A questão ambiental é hoje o assunto da moda, mas há 61 anos quando este tema nem sequer era debatido e nem tão pouco estava sob os holofotes da mídia, o advogado, biólogo, ambientalista, apicultor, e ex- Secretario Especial do Meio Ambiente Federal Paulo Nogueira Neto, iniciou um trabalho pioneiro de criação de abelhas indígenas sem ferrão, também conhecida como meliponicultura.

Estima-se que só no Brasil, existam mais de 200 espécies de abelhas sem ferrão e que um terço dos apicultores brasileiros já são seus criadores. As espécies do gênero Melipona, são as mais promissoras em termos de produção de mel e, a cultivada em Pernambuco e boa parte do Nordeste, é a uruçu-do-nordeste. De acordo com  o dentista  e meliponicultor há 18 anos, Renato Barbosa, os municípios onde a criação ganha destaque são Paulista, Igarassu, Timbaúba, Macaparana, São Vicente Férrer, Taquaritinga do Norte, Moreilândia, Dormentes entre outros.  O maior criador de abelhas indígenas sem ferrão em Pernambuco é Francisco das Chagas que possui mais de mil colônias e trabalha na multiplicação das espécies.

A meliponicultura vem crescendo por inúmeros motivos.  As abelhas sem ferrão são os principais agentes polinizadores de várias plantas nativas e preservá-las, é conservar os mais diversos tipos de vegetação. Inclusive, vários agricultores utilizam estas abelhas nativas na polinização de culturas agrícolas tais como urucum, chuchu, camu-camu, carambola, coco-da-bahia e manga.

O mel produzido pelas abelhas indígenas, por ser um produto orgânico e raro, tem um gosto especial, meio ácido, mas com vários nutrientes básicos necessários à saúde, como açúcares, vitaminas e antibióticos. “Devido  a estas qualidades, eu  digo que um litro do mel das abelhas indígenas  vale tanto quanto a mesma quantidade de uma champagne francesa de boa qualidade. “O litro deste  produto  chega a ser comercializado por R$100,00 a R$120,00”, salienta o palestrante. O alto valor desse mel é devido principalmente às suas  propriedades antibióticas.

De acordo com Paulo Nogueira, além de fonte de alimento e remédio complementar, o mel produzido pelas abelhas sem ferrão representa, em algumas regiões do país, uma fonte de renda. “Esta atividade no Nordeste tem caráter familiar e aumenta a renda dos trabalhadores, sem destruir o meio ambiente. Por ser uma espécie nativa, esta abelha é encontrada nas matas e, uma colônia com 2 a 3 mil abelhas podem produzir de um a dois litros de mel por ano”, enfatiza.Geralmente uma colônia é comercializada por R$500,00 a R$600,00, para remessa por avião, para outros Estados.

Outro atrativo da meliponicultura é o baixo custo. “Como as abelhas são dóceis e  de fácil manejo, pois possuem o ferrão atrofiado, podemos dispensar o uso de roupas e equipamentos de proteção como macacão, luvas, máscaras e fumegadores. Isto barateia os custos e permite que estas abelhas sejam mantidas perto das residências e de animais domésticos”, salienta Nogueira.

Com a devida autorização do IBAMA, os ninhos das abelhas sem ferrão são retirados de seu ambiente natural somente para fazer o plantel inicial. Uma vez formado, várias técnicas são utilizadas na multiplicação dos ninhos pra reduzir a necessidade de retirada das abelhas de seu local de origem.

O ambientalista “mostrou desde 1948” o seu pioneirismo desenvolvendo a  colméia PNN (Paulo Nogueira - Neto). A idéia, que até hoje é utilizada pelos meliponicultores, se assemelha a uma gaveta de madeira, que visa facilitar a coleta do mel sem danificar o ninho, acarretando prejuízos a colônia e a produção. Autor de inúmeros artigos e dois livros sobre o tema, lança, no inicio de 2010, sua terceira obra “O Dicionário das abelhas indígenas sem ferrão”.

A meliponicultura é, portanto, uma atividade de baixo impacto ambiental, que produz um alimento de elevado nível nutricional, e de retorno garantindo. Os interessados em investir neste seguimento não podem perder esta e outras palestras sobre Apicultura, que acontece nos três dias do Agrinordeste. Entre os nove painéis sobre o tema também podemos destacar “ Projeto Própolis Vermelho” “Criação e multiplicação de abelhas jandaira”, “Alternativas de alimentação para abelhas nativas e mellíferas”, entre outros.