A implantação de uma política nacional de erradicação do mormo, doença que afeta principalmente os cavalos, em 11 Estados brasileiros, é a principal exigência a ser encaminhada ao Governo Federal para evitar impactos econômicos no setor. “Países com rebanhos menores de cavalos já erradicaram a doença e o Brasil, com o quarto maior rebanho mundial, movimentando R$ 7,5 bilhões por ano e empregando 645 mil pessoas não pode estar sujeito a estes percalços”, afirmou o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Eqüideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Comissão Nacional do Cavalo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Pio Guerra.
Ao presidir reunião extraordinária da Câmara Setorial, nesta quarta-feira, em Brasília, Pio Guerra defendeu a disponibilização de recursos para ajudar criadores e produtores a combater a incidência desta enfermidade e indenizar pequenos agricultores que utilizam os animais como instrumento de trabalho para transporte de produção agropecuária. Ele informou que solicitará, juntamente com o deputado Carlos Melles (DEM/MG), audiência com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, para discutir a possibilidade de elaboração desta política.
Após quatro décadas sem registro da doença, o reaparecimento de um foco do mormo em Santo André, São Paulo, Estado que tem o terceiro maior rebanho nacional de eqüinos e onde acontecem importantes eventos nacionais e internacionais relacionados ao agronegócio cavalo, colocou a doença novamente em pauta. O Coordenador de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Cláudio Alvarenga de Melo, informou na reunião que o animal infectado foi sacrificado, sendo realizados exames em 33 eqüinos que vivem na região, sem a identificação de nenhum outro caso. Disse, ainda, que após o surgimento deste foco o Governo estadual passou a controlar a movimentação de animais em São Paulo. Também foram feitas outras amostras para detectar a existência de focos da doença em outros municípios fora de Santo André.
Segundo Pio Guerra, além de São Paulo ser uma importante região para a atividade eqüina, grande parte das exportações de cavalos vivos é feita pelo aeroporto de Viracopos, em Campinas. “É difícil quantificar o prejuízo em São Paulo, mas haverá impactos no agronegócio cavalo e nas vendas para o exterior”, disse Guerra. Segundo ele, após o Brasil notificar a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) sobre o foco da doença, alguns países já suspenderam as importações de cavalos brasileiros. Mas, na sua avaliação, se não forem identificados outros casos da doença, a situação deverá se normalizar em seis meses.
Durante a reunião, o representante da Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida (ABCPCC) na Câmara Setorial, Flávio Obino, sugeriu o encaminhamento ao ministro Reinhold Stephanes de solicitação para a criação de um corredor sanitário no aeroporto de Viracopos para facilitar a exportação e a importação de cavalos vivos. Para ele, deverão ser feitas negociações específicas com os países que colocaram restrições à entrada de cavalos brasileiros em seus mercados.
O mormo é causado pela bactéria Burkholderia mallei, transmitida principalmente por meio de pus, secreção nasal, urina ou fezes infectadas pelos doentes, causando lesões nas vias respiratórias, pele e gânglios linfáticos, entre outras conseqüências. Os animais infectados apresentam, entre outros sintomas, febre, úlceras, dificuldades na respiração e nódulos nos trajetos dos vasos linfáticos. A enfermidade também pode contagiar o homem e outros animais.