quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Museu do Estado sedia a mostra Arraestaqui

A Atuação política do governador Miguel Arraes vista através das charges de Lailson de 1979 a 2002

Um dos maiores e mais atuantes políticos brasileiros nas lutas populares e sociais, Miguel Arraes de Alencar é o tema da mostra Arraestaqui, um registro em vídeo, livro e exposição de sua trajetória política vista através das charges do cartunista Lailson, publicadas na imprensa entre 1979 e 2002. O evento, o primeiro do Instituto Miguel Arraes, é uma concepção de dona Madalena Arraes e do jornalista e cartunista pernambucano Lailson de Holanda Cavalcanti, convidado por dona Madalena para participar da ação.
Durante os 27 anos em que publicou charges diárias no Diário de Pernambuco, Lailson acompanhou, analisou e registrou a presença de Miguel Arraes na cena política de Pernambuco e do Brasil, documentando através do seu traço vários aspectos dessa trajetória. Mais de 300 destas charges tiveram a figura do governador Arraes como tema e mais de duas mil delas tiveram o seu entorno político e a repercussão das suas atividades como cenário.

E a escolha do nome Arraestaqui não foi à toa. De acordo com o cartunista, três motivos impulsionaram a escolha do nome para o evento. “O primeiro relaciona-se com o do retorno de Arraes do exílio; o segundo, uma homenagem ao grupo de músicos da Brigada de Artistas durante sua campanha ao governo em 1986 e a terceira foi uma maneira encontrada para trazer Arraes de volta aos nossos dias, através das charges”, explica. Ele também chama a atenção para a importância histórica da personalidade escolhida. “Quando se compõe uma personagem histórica, a base é a documentação oficial como as biografias, por exemplo.
A charge, no entanto, é um elemento iconográfico importante porque registra o momento em que um determinado fato está acontecendo, registrando através da opinião do desenhista o seu impacto na sociedade. Arraes é uma figura mitológica, dentro do imaginário popular e ele se presta a esse tipo de análise, sendo visto de maneira bem humorada e refletindo o simbolismo de sua representatividade no Estado e no país”, declara.

Foram mais de nove mil charges que Lailson publicou em Pernambuco entre 1977 e 2005. Desse número, 520, que contém referências ao político pernambucano, foram escolhidas para fazer parte do evento. Para a exposição, cerca de 200 desses desenhos estarão à disposição de quem quiser conferir, de maneira divertida, a trajetória de um dos maiores expoentes da história política do país.
De acordo com a responsável pelo projeto de instalação da mostra, Beth Araruna, o chargista conseguiu divulgar muito mais que apenas fatos. “Lailson é um pesquisador, que uniu o contexto histórico à personalidade de Arraes, dando uma dimensão maior à charge, indo além do desenho. A idéia é tão grandiosa e rica em informações, que o Instituto tem a intenção de realizar uma exposição itinerante em outros Estados e fora do Brasil”, explica.

Para a diretora do Museu do Estado, Margot Monteiro, a mostra vai dar uma dimensão de grande importância para o museu. Primeiro como arte e, segundo, como sendo a biografia de Pernambuco. “Essa exposição eleva a história do Estado. Agora, as pessoas terão a oportunidade de conhecer a vida de Arraes, sejam elas estudantes, curiosos, pesquisadores ou turistas. Reunir grande número destas obras em formato de livro é acrescentar mais uma parte na composição do retrato histórico da figura pública do governador Miguel Arraes de Alencar, permitindo uma análise da sua trajetória também através do Humor Gráfico” observa.

A curadora da mostra, dona Madalena Arraes, enfatiza que as charges deveriam ser mais conhecidas, uma vez que elas são uma crônica da trajetória de Arraes. “É uma oportunidade onde todos podem apreciar e conhecer mais um pouco o grande político que ele foi, principalmente os mais novos que não acompanharam todos os processos de mudança no nosso país. Arraes foi uma figura que inovou, que lutou por justiça e pelo direito a ter direito, independente da classe social de seus eleitores”, explica.
Dona Madalena ainda relembra que a admiração de um pelo outro, do político e do cartunista, era tão grande, que todo dia Arraes tomava café e ia ver as charges de Lailson. “Era uma expectativa ser mostrado como um ser humano, com falhas e acertos, recebendo uma crítica construtiva, ou não, diante de um fato ou uma simples atitude”.

Sobre a exposição - A mostra está organizada em dois pavimentos e de acordo com os doze capítulos do livro. No hall de entrada haverá textos de Dona Madalena e do governador Eduardo Campos. No piso superior, doze painéis mostram o jornal fictício O Tempo, criado por Lailson para o evento e que contextualiza os períodos onde foram publicadas as charges, No auditório do Museu passará o DVD que apresenta depoimentos de pessoas que tiveram participação nos três governos de Miguel Arraes e também charges animadas. Em seguida, a sala Linha do Tempo traz 12 painéis com as charges impressas em formato ampliado, onde se pode conferir, por etapas, os cartuns que se dividem em ordem cronológica de 1979 a 2002. Ainda compondo o ambiente, uma mesa com objetos de uso pessoal de Arraes, como cachimbos e outros pertences, deixa o local com ares de aposento particular. Uma parede com 30 desenhos e aquarelas de Lailson também estarão em exposição e dão a oportunidade de conhecer os originais das charges publicadas.

Documentário – Um vídeo de 30 minutos, recheado por depoimentos das mais importantes personalidades do mundo da política, da arte e cultura, como Ariano Suassuna, Abelardo da Hora, Eduardo Campos, Francisco Brennand, Fernando Bezerra Coelho, Ricardo Leitão, Tânia Bacelar, Sérgio Resende, José Múcio e Leda Alves, é outra atração do projeto. Na apresentação, os entrevistados falam sobre quem foi Arraes, a Anistia e, claro, a importância da charge como manifestação artística e elemento histórico. Uma aula e um retrato fiel da trajetória do Ex-Governador, com um apanhado histórico do ambiente sócio-político do Estado nos últimos 30 anos.

Para o mestre Ariano Suassuna, Miguel Arraes foi um dos maiores líderes políticos que já existiu, estando lado a lado com grandes personalidades como Getúlio Vargas, Luís Carlos Prestes e Luís Inácio Lula da Silva. Para ele, tudo que é feito para preservar a memória do nosso País e do nosso povo é valioso. “Trabalhei com ele e, além disso, tinha uma relação de amizade, nós nos dávamos bem. Era um homem que tinha discursos belíssimos, era o representante do povo. Realmente, merece muitas homenagens”, ressalta.

Serviço
Exposição do Projeto Arraestaqui
Museu do Estado de Pernambuco
De 17 de dezembro de 2008 a 28 de janeiro de 2009
De terça a sexta, das 09h às 17h
Sábados e domingos, das 14h às 19h