Inédita no interior do Nordeste, exposição em ‘back light’ revela detalhes e ângulos jamais observados na arte do centenário escultor caruaruense
Ao chegar a Caruaru, nos deparamos com uma infinidade de caracteres e resquícios culturais de uma história mais que secular. Na Capital do Agreste, que abriga o tradicional melhor São João do mundo, as cores e formas parecem ter algo a mais. Na terra do memorável Mestre Vitalino, o artesanato do barro não é apenas uma profissão, tampouco simples fonte de renda. Na sutileza e riqueza de detalhes das peças produzidas aqui, com esta matéria prima, fica clara a certeza de que a arte fala mais alto e aflora dos poros de cada artesão.
Se estivesse vivo, o precursor de toda esta arte completaria 100 anos. Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, nasceu no povoado de Ribeira dos Campos, em Caruaru, no dia 10 de julho de 1909. Ele é o homenageado maior do São João 2009 da cidade, idealizado pela Fundação de Cultura e pela Aliança Comunicação. Como presente, o artista que projetou a Capital do Agreste em todo o mundo,e que através da arte do barro fez com que o Alto do Moura se tornasse o Maior Centro de Artes Figurativas das Américas, ganhou uma exposição que mostra, em vários ângulos, a intimidade e perspicácia da elaboração das obras do Mestre.
Quem criou o projeto para expor esse novo olhar das representações de barro do artesão foi a comunicóloga, especializada em Cultura, Lina Rosa, em parceria com o renomado fotógrafo Helder Ferrer, que tem mais de duas décadas de experiência com a liguagem proporcionada pela imagem. Montada no Galpão de Artes da antiga Estação Ferroviária de Caruaru, a exposição “100 Olhares de Vitalino” traz à realidade uma revisão da subjetividade das esculturas moldadas pelas mãos hábeis do caruaruense. O tema faz ainda uma referência ao centenário do artista e também ao número de fotografias que o público pode ver.
Ao entrar no Galpão, a sensação de desconexão com o agitado mundo urbano contagia a todos, que se veem em um espaço bucólico e em harmonia com a destreza que Vitalino facilmente conseguia para estruturar verdadeiros monumentos artísticos. Com uma qualidade técnica digna a qualquer curadoria mundial, as imagens estão exibidas de forma inédita no interior do Nordeste brasileiro. Em reproduções de paredes de casas de taipa, feitas com barro e pedaços de madeira, os olhares de Vitalino, reinterpretados por Ferrer, tomam os espaços destinados às portas e janelas, em forma de ‘back light’. “É um olhar universal e atemporal de todo esse trabalho. Uma mistura do rústico e do contemporâneo, ratificando que o barro de Caruaru é uma verdadeira moradia para a arte”, destacou Lina Rosa.
Para entender como todo esse trabalho ganhou majestosa forma em menos de um mês, Helder Ferrer explica que uma pesquisa, adequada ao tempo disponível, foi essencial. Tecnicamente, toda a tarefa foi dividida em três grandes partes. A primeira consistiu uma visita ao Alto do Moura, para conhecer o universo que Vitalino habitava e ver de perto os ícones que inspiravam o escultor como o pífano, bacamarteiros e o homem da terra. Já a segunda e terceira partes, envolveram visitas ao Museu do Homem do Nordeste e ao acervo pessoal do senador pernambucano Jarbas Vasconcelos. Ambos reúnem uma magnífica coleção de peças originais de Vitalino Pereira. “Eu redescobri o Mestre. Agora, não o vejo apenas como artesão, mas como um escultor do barro. Não há como não transbordar sentimento ao ver os objetos feitos por Vitalino. Isso é arte”, enfatizou o fotógrafo responsável pelo resultado final das imagens.
Devido à grande aceitação do público e à bagagem cultural trazida por esta mostra para quem passa pelo Galpão das Artes, a Prefeitura de Caruaru estuda a possibilidade de realizá-la de forma itinerante, e simultânea, pelos Estados do Nordeste. “Vamos analisar os pontos e difundir ainda mais a arte-cultura produzida de forma espetacular por esse caruaruense tão ilustre que merece as nossas eternas homenagens”, explicou André Lubambo, secretário de Comunicação de Caruaru.
Quem quiser visitar “100 Olhares de Vitalino” deve passar por Caruaru e ir até a Estação Ferroviária, no centro. O espaço fica aberto de segunda à sexta-feira, das 18h às 23h. Já aos sábados e domingos o horário é das 19h à 00h. A entrada é gratuita.
